Cristiane Borges Angelo.
Email: cris.matema@hotmail.com
Professora do curso de Licenciatura em Matemática da Universidade Federal da Paraíba
UFPB/Campus IV
Fala-se hoje, com insistência, no professor
pesquisador. No meu entender o que há de pesquisador no professor não é uma
qualidade ou uma forma de ser ou de atuar que se acrescenta à de ensinar. Faz
parte da prática docente a indagação, a busca, a pesquisa. O de que se precisa
é que, em sua formação permanente, o professor se perceba e se assuma, porque
professor, como pesquisador. (FREIRE, 1997, p. 29)
Atualmente, nos
discursos educacionais, uma expressão que aparece com frequência é “professor
pesquisador”. Em algum momento de sua formação ou até mesmo nos espaços da
escola, se já é professor, você já deve ter ouvido ou lido sobre essa
expressão. Antes de começarmos a falar sobre o professor pesquisador, vamos
refletir um pouco sobre a palavra pesquisa.
Quando falamos em
pesquisa, nos referimos à ideia de investigação, ou seja, a pesquisa remete-nos
ao mergulho na busca de explicações. D’ambrosio (1996) defende que a pesquisa é
o elo entre a teoria e a prática. Para o autor, “todos exercem uma prática -
isto é, fazem - e isso com suporte em alguma teorização - isto é - sabem”
(D’AMBROSIO, 1996, p. 94).
Ao refletir sobre a
pesquisa no espaço da escola, não podemos deixar de nos remeter a figura do
professor pesquisador, que é compreendido como um sujeito que está
permanentemente na busca de novos conhecimentos e na procura de conhecer e
compreender os seus alunos e o contexto no qual está inserido. A busca pelo
conhecer, a indagação dos “porquês” e dos “comos”, a inquietação frente à
realidade, a postura crítica, a leitura da realidade, fazem com que a figura do
professor e a figura do pesquisador sejam indissociáveis.
Para Muniz (2008, p.
211), pesquisar, nesse contexto, significa, dentre outras possibilidades:
• um olhar mais
criterioso e investigativo da prática pedagógica na sala de aula, procurando sempre
melhor compreender os fenômenos da aprendizagem;
• leituras sobre
temas de interesse ao professor e educador matemático;
• criação de espaços
de discussão na comunidade escolar para debater questões que incomodam os
professores quanto ao rendimento da aprendizagem matemática;
• realização de
pequenas e constantes experimentações, uma constante busca de inovações de suas
práticas pedagógicas;
• identificação de
situações do contexto sociocultural explorando a presença da matemática em
situações mais amplas que as das ditas didáticas;
• registro e
catalogação regular de pequenas produções e reflexões, assim como dos planejamentos
e trabalhos dos alunos;
• elaboração de
tabelas e de gráficos que possibilitem melhor compreender a evolução e a
involução dos resultados das avaliações de aprendizagem.
Assim, a atitude de
pesquisa possibilita ao professor uma compreensão da realidade à qual está
inserido, com vistas a sua transformação. Além disso, permite que o professor
de matemática busque respostas para as questões inerentes ao ensino dessa
disciplina e que tenha clareza sobre a concepção de matemática que possui.
Particularmente
no ensino de Matemática predomina, ainda, uma visão absolutista da Matemática
em que essa disciplina é vista como um produto acabado, estático sem
possibilidades de investigação.
Essa
visão de Matemática reflete um ensino como transmissão de conhecimento e o
aluno com um papel passivo na aprendizagem, sendo um mero receptor de
conteúdos.
As
orientações curriculares atuais para o ensino de matemática pretendem romper
com essa visão ao conceber o aluno como agente ativo em sua aprendizagem. São
baseadas nas ideias socioconstrutivistas de aprendizagem que partem do
princípio que a aprendizagem se realiza pela construção de conceitos pelo
próprio aluno, mediada pelo professor.
Sabemos
que para o professor romper com concepções já arraigadas e construídas ao longo
de toda a sua trajetória escolar, quer na condição de aluno como de professor,
não é tarefa fácil e significa, de certa forma, uma possibilidade de
aprendizado para o professor.
Muniz (2008) ao fazer
um paralelo entre o processo de aprender do aluno e o processo de aprender do
professor afirma que
para o aluno,
aprender significa romper com conceitos antigos, impregnados na ação e no
pensamento, requerendo um esforço na mudança de paradigmas na forma de conceber
a realidade e agir sobre ela, por outro lado o aprender para o professor, na
mesma base teórica, significa também um rompimento com conceitos cristalizados
sobre sua prática profissional e seu papel social, e não menos, significa um
esforço cognitivo de revisão de conceitos e procedimentos. (MUNIZ, 2008, p.
210)
É
nesse âmbito que Freire, em um de seus ensaios, destacou estar convencido de
que “uma das mais importantes tarefas que a formação permanente dos educadores
se deveria centrar seria convidá-los a pensar criticamente sobre o que fazem”
(FREIRE, 1991, p. 123).
Nesse
sentido, percebemos que a pesquisa é uma das dimensões mais legítimas para o
aprendizado e desenvolvimento profissional do professor.
Nóvoa
(1997) concebe o desenvolvimento profissional de professores em três vertentes,
quais sejam: o desenvolvimento pessoal, o desenvolvimento profissional e o
desenvolvimento organizacional.
Para
o autor, o desenvolvimento profissional de professores leva em consideração o
professor como pessoa, o coletivo docente e as organizações escolares onde os
professores exercem as suas atividades profissionais. Entendendo o desenvolvimento
profissional dessa forma atentamos para o fato de que a profissão docente está
sob a égide da complexidade que implica no enfrentamento, por parte dos
professores, de situações cotidianas imprevisíveis em que se relaciona a pessoa
do professor, o contexto a que está submetido e a cultura organizacional da
escola em que atua.
Se o contexto no qual
se dá o trabalho docente é complexo e indeterminado, o professor deverá dispor
de conhecimentos para agir nessas situações, muitas vezes imprevisíveis. Por esse
motivo, defendemos que devam ser fomentadas discussões entre os professores
acerca da natureza do ensinar Matemática para que se compreendam seus processos
de ensino e aprendizagem. E é essa busca por compreensão, fomentada pela
pesquisa, que possibilita aos professores analisar em suas
concepções o papel e as finalidades do ensino de matemática e o significado do
processo de aprendizagem de seus alunos.
Assim, a atitude de pesquisa no âmbito educacional é uma forma
de atribuir significados à nossa prática escolar. Para tal, acreditamos que um
ambiente em que sejam privilegiadas as pesquisas e reflexões concernentes ao
ensino da disciplina de Matemática e suas correlações com as diversas áreas do
conhecimento, seria um lugar em que emergiriam vários aspectos que facilitariam
a atuação do professor em sala de aula, o que vai de encontro à utilização de
somente uma fonte (normalmente o livro didático), no planejamento e execução do
trabalho do professor.