terça-feira, 10 de julho de 2012

A pesquisa como atividade inerente à docência


Cristiane Borges Angelo.
Email: cris.matema@hotmail.com
Professora do curso de Licenciatura em Matemática da Universidade Federal da Paraíba
UFPB/Campus IV 

Fala-se hoje, com insistência, no professor pesquisador. No meu entender o que há de pesquisador no professor não é uma qualidade ou uma forma de ser ou de atuar que se acrescenta à de ensinar. Faz parte da prática docente a indagação, a busca, a pesquisa. O de que se precisa é que, em sua formação permanente, o professor se perceba e se assuma, porque professor, como pesquisador. (FREIRE, 1997, p. 29)

Atualmente, nos discursos educacionais, uma expressão que aparece com frequência é “professor pesquisador”. Em algum momento de sua formação ou até mesmo nos espaços da escola, se já é professor, você já deve ter ouvido ou lido sobre essa expressão. Antes de começarmos a falar sobre o professor pesquisador, vamos refletir um pouco sobre a palavra pesquisa.
Quando falamos em pesquisa, nos referimos à ideia de investigação, ou seja, a pesquisa remete-nos ao mergulho na busca de explicações. D’ambrosio (1996) defende que a pesquisa é o elo entre a teoria e a prática. Para o autor, “todos exercem uma prática - isto é, fazem - e isso com suporte em alguma teorização - isto é - sabem” (D’AMBROSIO, 1996, p. 94).
Ao refletir sobre a pesquisa no espaço da escola, não podemos deixar de nos remeter a figura do professor pesquisador, que é compreendido como um sujeito que está permanentemente na busca de novos conhecimentos e na procura de conhecer e compreender os seus alunos e o contexto no qual está inserido. A busca pelo conhecer, a indagação dos “porquês” e dos “comos”, a inquietação frente à realidade, a postura crítica, a leitura da realidade, fazem com que a figura do professor e a figura do pesquisador sejam indissociáveis.
Para Muniz (2008, p. 211), pesquisar, nesse contexto, significa, dentre outras possibilidades:
• um olhar mais criterioso e investigativo da prática pedagógica na sala de aula, procurando sempre melhor compreender os fenômenos da aprendizagem;
• leituras sobre temas de interesse ao professor e educador matemático;
• criação de espaços de discussão na comunidade escolar para debater questões que incomodam os professores quanto ao rendimento da aprendizagem matemática;
• realização de pequenas e constantes experimentações, uma constante busca de inovações de suas práticas pedagógicas;
• identificação de situações do contexto sociocultural explorando a presença da matemática em situações mais amplas que as das ditas didáticas;
• registro e catalogação regular de pequenas produções e reflexões, assim como dos planejamentos e trabalhos dos alunos;
• elaboração de tabelas e de gráficos que possibilitem melhor compreender a evolução e a involução dos resultados das avaliações de aprendizagem.

Assim, a atitude de pesquisa possibilita ao professor uma compreensão da realidade à qual está inserido, com vistas a sua transformação. Além disso, permite que o professor de matemática busque respostas para as questões inerentes ao ensino dessa disciplina e que tenha clareza sobre a concepção de matemática que possui.
Particularmente no ensino de Matemática predomina, ainda, uma visão absolutista da Matemática em que essa disciplina é vista como um produto acabado, estático sem possibilidades de investigação.
Essa visão de Matemática reflete um ensino como transmissão de conhecimento e o aluno com um papel passivo na aprendizagem, sendo um mero receptor de conteúdos.
As orientações curriculares atuais para o ensino de matemática pretendem romper com essa visão ao conceber o aluno como agente ativo em sua aprendizagem. São baseadas nas ideias socioconstrutivistas de aprendizagem que partem do princípio que a aprendizagem se realiza pela construção de conceitos pelo próprio aluno, mediada pelo professor.
Sabemos que para o professor romper com concepções já arraigadas e construídas ao longo de toda a sua trajetória escolar, quer na condição de aluno como de professor, não é tarefa fácil e significa, de certa forma, uma possibilidade de aprendizado para o professor.
Muniz (2008) ao fazer um paralelo entre o processo de aprender do aluno e o processo de aprender do professor afirma que

para o aluno, aprender significa romper com conceitos antigos, impregnados na ação e no pensamento, requerendo um esforço na mudança de paradigmas na forma de conceber a realidade e agir sobre ela, por outro lado o aprender para o professor, na mesma base teórica, significa também um rompimento com conceitos cristalizados sobre sua prática profissional e seu papel social, e não menos, significa um esforço cognitivo de revisão de conceitos e procedimentos. (MUNIZ, 2008, p. 210)

É nesse âmbito que Freire, em um de seus ensaios, destacou estar convencido de que “uma das mais importantes tarefas que a formação permanente dos educadores se deveria centrar seria convidá-los a pensar criticamente sobre o que fazem” (FREIRE, 1991, p. 123).
Nesse sentido, percebemos que a pesquisa é uma das dimensões mais legítimas para o aprendizado e desenvolvimento profissional do professor.
Nóvoa (1997) concebe o desenvolvimento profissional de professores em três vertentes, quais sejam: o desenvolvimento pessoal, o desenvolvimento profissional e o desenvolvimento organizacional.
Para o autor, o desenvolvimento profissional de professores leva em consideração o professor como pessoa, o coletivo docente e as organizações escolares onde os professores exercem as suas atividades profissionais. Entendendo o desenvolvimento profissional dessa forma atentamos para o fato de que a profissão docente está sob a égide da complexidade que implica no enfrentamento, por parte dos professores, de situações cotidianas imprevisíveis em que se relaciona a pessoa do professor, o contexto a que está submetido e a cultura organizacional da escola em que atua.
Se o contexto no qual se dá o trabalho docente é complexo e indeterminado, o professor deverá dispor de conhecimentos para agir nessas situações, muitas vezes imprevisíveis. Por esse motivo, defendemos que devam ser fomentadas discussões entre os professores acerca da natureza do ensinar Matemática para que se compreendam seus processos de ensino e aprendizagem. E é essa busca por compreensão, fomentada pela pesquisa, que possibilita aos professores analisar em suas concepções o papel e as finalidades do ensino de matemática e o significado do processo de aprendizagem de seus alunos.
Assim, a atitude de pesquisa no âmbito educacional é uma forma de atribuir significados à nossa prática escolar. Para tal, acreditamos que um ambiente em que sejam privilegiadas as pesquisas e reflexões concernentes ao ensino da disciplina de Matemática e suas correlações com as diversas áreas do conhecimento, seria um lugar em que emergiriam vários aspectos que facilitariam a atuação do professor em sala de aula, o que vai de encontro à utilização de somente uma fonte (normalmente o livro didático), no planejamento e execução do trabalho do professor.

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