domingo, 12 de dezembro de 2010

O Amor.


O monólogo de Orfeu, escrito por Vinicius de Moraes é belo e retrata o amor de um homem. Amor incompreensível, como todo amor deve ser. Amor claro, com verdade e pureza, sem frescuras, com profundidade, amor incondicional, portanto total, absoluto, irrestrito, integral. O Amor não tem cheiro nem cor e coloca tudo e todos em crise, pois ele é grande de mais para ser explicado e entendido,por natureza, COMPLEXO. Me defina O AMOR? não posso definir, mas posso caracterizar. É uma coisa que agente sente, é um frio na barriga, as pernas bambas, a boca seca, o corpo sua, a visão fica turva quando se vê a pessoa amada, ESSAS SÃO AS CARACTERÍSTICAS DE QUEM AMA. Todos nós desejamos um amor, mas esse deve ser saudável, cheio de um sentimento maior do que se prega pelos hipócritas, de entrega total, de vida compartilhada, de cumplicidade.Portanto quero um amor...

Amor que todos querem, mas que poucos sentem.
Amor silencioso que em tudo espera.
Amor sem preconceito
Simplesmente AMOR.

Então segue o belo monólogo de Orfeu.

Mulher mais adorada!
Agora que não estás, deixa que rompa
O meu peito em soluços! Te enrustiste
Em minha vida; e cada hora que passa
É mais por que te amar, a hora derrama
O seu óleo de amor, em mim, amada...
E sabes de uma coisa? Cada vez
Que o sofrimento vem, essa saudade
De estar perto, se longe, ou estar mais perto
Se perto, – que é que eu sei! Essa agonia
De viver fraco, o peito extravasado
O mel correndo; essa incapacidade
De me sentir mais eu, Orfeu; tudo isso
Que é bem capaz de confundir o espírito
De um homem – nada disso tem importância
Quando tu chegas com essa charla antiga
Esse contentamento, essa harmonia
Esse corpo! E me dizes essas coisas
Que me dão essa força, essa coragem
Esse orgulho de rei. Ah, minha Eurídice
Meu verso, meu silêncio, minha música!
Nunca fujas de mim! Sem ti sou nada
Sou coisa sem razão, jogada, sou
Pedra rolada. Orfeu menos Eurídice...
Coisa incompreensível! A existência
Sem ti é como olhar para um relógio
Só com o ponteiro dos minutos. Tu
És a hora, és o que dá sentido
E direção ao tempo, minha amiga
Mais querida! Qual mãe, qual pai, qual nada!
A beleza da vida és tu, amada
Milhões amada! Ah! Criatura! Quem
Poderia pensar que Orfeu: Orfeu
Cujo violão é a vida da cidade
E cuja fala, como o vento à flor
Despetala as mulheres - que ele, Orfeu
Ficasse assim rendido aos teus encantos!
Mulata, pele escura, dente branco
Vai teu caminho que eu vou te seguindo
No pensamento e aqui me deixo rente
Quando voltares, pela lua cheia
Para os braços sem fim do teu amigo!
Vai tua vida, pássaro contente
Vai tua vida que estarei contigo!

2 comentários:

  1. Amor incompreensível, como todo amor deve ser. Amor claro, com verdade e pureza, sem frescuras, com profundidade, amor incondicional, portanto total, absoluto, irrestrito, integral.
    Como sempre, escrevendo muito bem.

    ResponderExcluir
  2. Adorei o espaço... escrever sobre o amor não é tarefa das mais faceis ou será que é?( falar de amor é sempre contraditório) Mas os poetas e os criticos nunca deixaram de falar ou de tentar definir ou apenas refletir... e nessas muitas "falas" a maioria dos escritores concordam nas caractéristicas de quem ama e no ideal de amorr... És mais um a contemplar e falar de amor JÂNIO. Gostei do adjetivo usado "claro" Amor CLARO...o que há atrás da claridade do amor... estou a refletir...

    ResponderExcluir