sexta-feira, 8 de julho de 2016

O trabalho enobrece o homem ou empobrece a vida?

Operários, 1933, Tarsila do Amaral 

A pergunta acima é um tanto complexa, e levanta um muro de ideias entre capitalistas e socialistas. Contudo, me veio à mente esta reflexão ao chegar de um dia cansativo de trabalho, e, ao abrir uma coluna em uma revista eletrônica que aprecio, sobre economia, encontrar uma entrevista dada pelo presidente da CNI (Confederação Nacional da Indústria), Robson Braga de Andrade, após reunião com o Presidente interino Michel Temer, sobre os caminhos que deve o Brasil seguir para enfrentar a famigerada crise econômica. 
O Brasil deve estar aberto às mudanças, assim falou o presidente da CNI. Porém, quais mudanças tomar? Segundo Braga tais mudanças devem iniciar pela legislação trabalhista, e, a exemplo da França, as empresas devem negociar  com empregados o aumento da jornada para até 80 horas semanais. Seria cômico, se não fosse trágico! Além disso, Braga citou ainda que a iniciativa privada está “ansiosa” e o governo deve adotar medidas “duras, modernas, e difíceis para a economia”.
Face ao pronunciamento, eis a questão: o trabalho enobrece o homem ou empobrece a vida? De onde vem a nobreza do trabalho? Considerando que um dia tem vinte e quatro horas, das quais ao menos 11 destas são reservadas aos empregadores, inserindo horário de almoço, realizado em dois turnos, e aproximadamente duas ou três horas com os deslocamentos, lembrando o estresse com o trânsito, por exemplo, nos grandes centros, para chegar ao local de trabalho, o trabalho pode criar uma rotina maléfica e desestimulante ao trabalhador.
Restam-nos, então, pouco mais de treze horas, dentre as quais dez destas estarão reservadas para cuidarmos de nossa existência básica, inserindo aqui uma média de 8h para dormir, nos alimentarmos, ou o cuidado de nossa higiene.
O que sobra? Pouco mais de três horas para fazermos o que gostamos. Às vezes, a prática de um exercício físico, um lanche com a família, a leitura de um livro, sem esquecer o cansaço de um dia corrido, e, às vezes, a preguiça de nos dedicarmos a estas atividades, descartando esse tempo em frente a um computador. O resultado? Um vazio. O desestímulo. A angústia.
     Assim, sobre o pronunciamento acima só vi asneiras, e ideias inconstitucionais. Está salvaguardado na Constituição Federal, art. 7º, XIII “a jornada do trabalho normal não superior a oito horas diárias e quarenta e quatro semanais, facultando a compensação de horários e a redução da jornada, mediante acordo ou convenção coletiva de trabalho”.
Sim, o Brasil deve estar aberto às mudanças, mas mudanças benéficas àqueles que constroem diariamente este país: o trabalhador. O governo não pode, objetivando beneficiar a iniciativa privada, ir de encontro ao trabalhador.
Qual o caminho? Essa é uma pergunta difícil para um jovem que cresceu com país em desenvolvimento, e que até então não vivenciara uma crise econômica de tamanha dimensão. Todavia, sem dúvidas, afetar ao trabalhador não é o caminho. Max Weber, falando sobre o tema, assentiu: “O trabalho enobrece o homem”. Max não estava errado, mas é preciso garantir o estímulo, e, por sua vez, a diversão do trabalho.

ALVES JÚNIOR, J. S

Graduando em Direito, Unipê | PB


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